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Dr. Ricardo Bizeli

Você é o que come? Talvez não...


Quando eu pergunto para as pessoas o que elas acham desse ditado, a reação é unânime: "Claro". Mas será que nós realmente somos o que comemos?

Como explicar então a rotina alimentar das pessoas magras? Se uma alimentação desregrada fosse a explicação da obesidade, os magros seriam os obesos. Percebam em uma praça de alimentação de shopping: a bandeja dos magros é absurdamente hipercalórica. Interessante é que dessas pessoas ninguém critica as escolhas alimentares...

Enquanto isso, o diário alimentar do obeso muitas vezes é muito mais saudável, e nem por isso a pessoa consegue reduzir o peso. Esse paradoxo praticamente corrobora que a obesidade é apenas uma doença, e que esta tem muito pouco a ver com a alimentação atual do paciente.

Mas por que as pessoas insistem tanto em culpar os hábitos alimentares do obeso? Por que essa narrativa "pegou"?

Em muitas situações da vida, como viajar de avião, andar de montanha russa, visitar lugares altos ou mesmo sofrendo um assalto, sentimos MEDO. Esse medo decorre principalmente da sensação de perda de CONTROLE da situação. Não podemos pular do avião em movimento, nem do carrinho de montanha russa. Não conseguimos adivinhar qual será a próxima atitude do assaltante. Da mesma forma, sempre que nos deparamos com sintomas de doenças como uma mancha na pele ou um pico hipertensivo, tendemos a minimizar o problema: "Ah, eu que derrubei limão" ou "É que eu vim correndo, por isso que a pressão está alta". Quem não conhece alguém que jurava veementemente que pararia de beber quando quisesse, e que só assumiu que havia algo errado quando começou a tremer, ou seja, perdeu o CONTROLE dos movimentos?

Dessa forma, o reconhecimento da obesidade como doença é mais difícil, pois os pacientes preferem a narrativa que supõe um controle da situação, como quando acham que precisam de uma "reeducação alimentar" (como se má educação alimentar sempre fosse a explicação para a obesidade...), ou que só precisam "tomar vergonha na cara" que está tudo resolvido.

Como toda doença, a obesidade só pode ser controlada com um TRATAMENTO médico, com protocolos bem definidos para cada perfil de paciente. Apesar de haver várias medicações que podem ajudar no tratamento, o pilar do sucesso terapêutico está em um PLANEJAMENTO alimentar, seguido à risca, como no manejo de todas as outras doenças. Ninguém que use uma pílula anticoncepcional de vez em quando, ou que tome anti-hipertensivos apenas quando lembra, obterá sucesso.

Portanto, apesar dos pacientes não gostarem de saber que são portadores de uma doença, apesar dos médicos tirarem o corpo fora do atendimento do obeso colocando toda a culpa no doente e apesar da mídia preferir vender a ilusão de controle ao sugerir um modismo novo por mês, a verdade é que a solução para a obesidade é simples: procure um médico.

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